A educação e o respeito às leis e à sinalização das vias são fatores determinantes para que o número de acidentes de trânsito seja reduzido em todo o país.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os sinistros de trânsito foram a primeira causa de óbitos em todo o mundo, na faixa etária de 5 a 29 anos, incidindo de forma desproporcional sobre pedestres, ciclistas e motociclistas, e, principalmente, sobre as pessoas que vivem em países em desenvolvimento.
Conforme análise realizada pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) , entre os anos de 2015 e 2023, foram 31.290 óbitos causados por Acidentes de Transporte Terrestre (ATT) e 211.641 vítimas precisaram de internação hospitalar em todo o estado.
Os homens representaram 81% desses óbitos, ou seja, o risco de um homem morrer por ATT em Minas Gerais foi 4,4 vezes maior que o de uma mulher. Com relação às internações, as vítimas do sexo masculino também apresentaram maior proporção, correspondendo a 79% do total dos casos registrados no sistema.
Ainda de acordo com o levantamento da SES-MG, entre 2015 e 2023, o número de óbitos por acidentes de trânsito foi maior em ocupantes de automóvel e caminhonete, totalizando 11.831 vítimas, seguido por ocupantes de motocicletas, com 7.304.
A maior concentração do número de mortes por acidentes ocorreu nas faixas etárias entre 20 a 49 anos, sendo que a população de 20 a 29 anos apresentou o maior registro, com 21% do total.
Na distribuição dos óbitos pelo estado, o levantamento aponta que a Unidade Regional de Saúde (URS) de Patos de Minas apresentou a maior taxa proporcional, com 28,6 óbitos por 100 mil habitantes, seguida pelas regionais de Sete Lagoas (24,9/100 mil), Manhuaçu (23,2/100 mil) e Montes Claros (22,4/100 mil).
Questão de saúde pública
A morbimortalidade por lesões causadas em acidentes de trânsito faz com que a questão seja considerada um importante problema de saúde pública, que requer políticas que envolvam atividades de educação e segurança no trânsito, cooperação, inovação e compromisso com a prevenção dos acidentes.
Para disseminar conhecimento e promover essa conscientização na população, a SES-MG apoia, mais uma vez, a campanha Maio Amarelo que, neste ano, tem como tema “Paz no trânsito começa por você”. A proposta é focar nos públicos mais vulneráveis, como pedestres, ciclistas e motociclistas, para reduzir o número de vítimas.
Segundo a coordenadora de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis da SES-MG, Sandra de Souza, as ações para redução de lesões do trânsito são desenvolvidas de forma descentralizada nos municípios, com o apoio técnico das URS e a elaboração de um Plano de Ação, para o qual a SES-MG destinou mais de R$ 48 milhões.
“A ideia é que todos os municípios desenvolvam programas e projetos de intervenção que reduzam os acidentes de trânsito em seus territórios e que conscientizem os munícipes da importância do papel de cada um para essa redução”, ressalta Sandra de Souza, que destaca que os acidentes de trânsito são fenômenos multifatoriais e que algumas condições aumentam os riscos de colisões.
Para evitar acidentes e reduzir as lesões e mortes, a coordenadora da SES-MG alerta que é importante falar sobre as mudanças de comportamento das pessoas. “Todos devem observar e respeitar as sinalizações das vias e refletir sobre mudança de comportamento no trânsito”, diz.
“Os ocupantes dos veículos devem usar o cinto de segurança e sempre dar preferência de passagem aos pedestres. Os motociclistas e ciclistas devem usar os equipamentos de proteção adequados como o capacete bem ajustado à cabeça, além de roupas e calçados que possam proteger o corpo e, para os ciclistas, é necessário, também, o uso de roupas que facilitem a visualização na via”, exemplifica Sandra.
Redução de riscos
Algumas ações são primordiais para diminuir os riscos no trânsito. O uso correto dos capacetes, por exemplo, pode reduzir em 42% o risco de mortes e em 69% o risco de lesões graves em motociclistas e ciclistas.
Usar o cinto de segurança reduz o risco de morte entre motoristas e passageiros dos bancos dianteiros entre 45% e 50%, e o risco de morte e lesões graves entre passageiros dos bancos traseiros cai em até 25%. Além disso, o uso correto dos sistemas de retenção para crianças pode reduzir em 60% o número de mortes.
A coordenadora de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis da SES-MG lembra dos risco de usar aparelhos celulares ao conduzir veículos e, principalmente, de quem mistura bebida alcoólica e volante, “que é uma das principais causas de acidentes, tanto no Brasil, quanto no mundo”, revela.
Perigo em duas rodas
Desde o início da pandemia da covid-19, em 2020, houve aumento da circulação de motocicletas e bicicletas em todo o estado, de modo a suprir a necessidade do comércio e dos serviços de entrega.
Em 2023, as motos foram os veículos mais procurados para financiamento em Minas Gerais. Com isso, também aumentaram os números de acidentes envolvendo esses veículos.
Segundo levantamento da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) , o Hospital João XXIII, que é referência para atendimento de politraumatizados, atendeu 5.707 vítimas de acidentes com motocicletas só em 2023.
Em nível estadual, entre 2015 e 2023, foram registradas 91.722 internações de vítimas de acidentes com moto. A faixa etária que concentra o maior número de vítimas de acidentes em motocicletas é de 15 a 49 anos e as internações têm predomínio da população masculina.
“O maior registro de óbitos nessa população de adultos-jovens pode ser atribuído, muitas vezes, ao fato de os condutores não estarem totalmente capacitados para conduzir o veículo sem riscos” analisa Sandra de Souza.
“A impulsividade é característica nessa faixa etária e se une à necessidade de autoafirmação perante seus pares, com o não uso de equipamentos de segurança, o hábito de violar normas de segurança e o desrespeito às leis, bem como o fato de misturar álcool e outras drogas com a direção”, enfatiza.
A bicicleta também passou a ser mais utilizada para o trabalho, como veículo de passeio, de lazer, esporte ou como forma de deslocamento. Somente em 2023, 1.957 ciclistas necessitaram de internação devido a traumas sofridos em acidentes, e 143 morreram. O levantamento feito pela SES-MG aponta um aumento de 37,5% nos óbitos deste público, entre 2016 e 2023.
Lesões e óbitos no trânsito podem ser evitados com a adoção de medidas de segurança de maneira integral, o que requer envolvimento de vários setores, como transporte, segurança pública, saúde e educação.
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