Benedicta e Tibério foram escravizados no continente africano e trazidos para a Bahia pós-proibição do tráfico na década de 1850. Aqui chegando, no século XIX, se conheceram e constituíram família e patrimônios.
A figura de Mãe Stella de Oxóssi traz, em sua órbita, diversos desdobramentos que incluem desde sua atuação no candomblé até sua contribuição na literatura brasileira e na enfermagem. Agora, o professor e historiador, Diego Copque, insere mais um capítulo nas páginas da história da saudosa matriarca do Ilê Axé.
Opô Afonjá.
Durante a pesquisa realizada para a escrita do livro De Benedicta & Tibério à Mãe Stella de Oxóssi: a vida em tempo de viver 1850-2025 o pesquisador – que é membro efetivo do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) e autor do livro A presença do Recôncavo Norte da Bahia na Consolidação da Independência do Brasil obra que inseriu Mata de São João, Dias D’Ávila, Camaçari e Lauro de Freitas na reparação histórica com a criação de uma nova rota do Fogo Simbólico do Dois de Julho – traz à luz a história dos ancestrais de Mãe Stella de Oxóssi que participaram ativamente da construção social e econômica de Salvador no século XIX.
No livro, Diego Copque conta que Dona Benedicta, trazida escravizada do continente africano em um período em que a lei já proibia o tráfico, conheceu Tibério – também tirado de sua terra natal no continente africano – e juntos conquistaram suas liberdades após episódios jurídicos e econômicos. Unidos, constituíram família e prosperaram a ponto de Benedicta adquirir a residência onde nasceu o político, diplomata e jurista baiano Ruy Barbosa.
Além do trabalho exaustivo de pesquisa, a obra conta com contribuições do turismólogo e escritor, Oswaldo César Fernandes Copque, que assina a apresentação e do jornalista, Fernando Coelho, autor do prefácio. O livro terá, aproximadamente, 250 páginas e incluirá muitas imagens entre ilustrações, mapas e fotografias.
No dia 2 de maio de 2025, data da celebração do centenário de Mãe Stella, o professor e historiador Diego Copque; o jornalista, escritor e agitador cultural Clarindo Silva; o jornalista e professor Luís Guilherme Tavares; familiares de Mãe Stella; o jornalista e editor da Cogito Editora Ivan Almeida; além de outras personalidades, as 15:00 — vão realizar um ato em frente ao sobrado que pertenceu à família de Ruy Barbosa e a bisavó de Mãe Stella, reivindicando sua restauração.
Ruy Barbosa nasceu no dia 5 de novembro de 1849 no sobrado n.º 9 na antiga Rua dos Capitães, no distrito da Sé. O nome da Rua dos Capitães, no início do século XX, mudou o nome para Rua Ruy Barbosa em homenagem ao grande jurista baiano conhecido como Águia de Haia. Mas, desde o início da década de 1880, o antigo sobrado passou a pertencer à Benedicta Ignacia Vianna, cujo companheiro, Tibério Miguel Luiz Vianna, foi cativo da família da esposa de Ruy Barbosa, Maria Augusta Vianna Bandeira, neta do traficante de escravizados Miguel Luiz Vianna.
Dez anos após a morte de Benedicta Ignacia Vianna em 1907, no dia 20 de outubro de 1917, o sobrado foi leiloado e arrematado através da subscrição popular realizada pelo redator do jornal A Tarde, Ernesto Simões Filho. Em 1935, na gestão do então prefeito da Cidade do Salvador, José Americano da Costa, o sobrado foi doado à Associação Bahiana de Imprensa (ABI) para a construção da Casa do Jornalista. À época, a ABI era presidida por Ranulfo Oliveira Dias. O status atual desse Patrimônio Histórico e Cultural é de degradação e precisa urgentemente de restauração.
Outro patrimônio histórico que precisa de atenção do poder público é a residência onde nasceu Maria Stella de Azevedo Santos, Mãe Stella de Oxóssi, localizada na Ladeira do Ferrão, n.º 6 — Também no Centro Histórico de Salvador. A casa que Mãe Stella nasceu, pertenceu ao casal de portugueses João de Souza Coelho e dona Ana Emília de Souza. Desde o ano de 2009 existe um projeto para transformar a casa em um memorial.